terça-feira, fevereiro 03, 2009

"Chimarrão"

O Chimarrão é um legado do índio Guarani.

Sempre presente no dia-a-dia, o chimarrão constituiu-se na bebida típica do Rio Grande do Sul, ou seja, na tradição representativa do nosso pago. Também conhecido como mate amargo, como bebida preferida pelo gaúcho, constitui-se no símbolo da hospitalidade e da amizade do gaúcho. É o mate cevado sem açúcar, preparado em uma cuia e sorvido através de uma bomba. É a bebida proveniente da infusão da erva-mate, planta nativa das matas sul-americanas, inclusive no Rio Grande do Sul.

O homem branco, ao chegar no pago gaúcho, encontrou o índio guarani tomando o CAA, em porongo, sorvendo o CAÁ-Y, através do TACUAPI.

Podemos dizer, que o chimarrão é a inspiração do aconchego, é o espírito democrático, é o costume que, de mão – em - mão, mantém acesa a chama da tradição e do afeto, que habita os ranchos, os galpões dos mais longínquos rincões do pago do sul, chegando a ser o maior veículo de comunicação.

O mate é a voz quíchua, que designa a cuia, isto é, o recipiente para a infusão do mate. Atualmente, por extensão passou a designar o conjunto da cuia, erva-mate e bomba, isto é, o mate pronto.

O homem do campo passou o hábito para a cidade, até consagrá-lo regional. O Chimarrão é um hábito, uma tradição, uma espécie de resistência cultural espontânea.

Os avios ou os apetrechos do mate constituem o conjunto de utensílios usados para fazer o mate. Os avios do mate são fundamentalmente a cuia e a bomba.

A CUIA NOVA

Quando a cuia é nova, é necessário curti-la antes de começar a matear. Para tal, é necessário enchê-la de erva-mate pura ou ainda misturada com cinza vegetal e água quente, que deve permanecer de dois a três dias, mantendo a umidade, para que fique bem curtida, impregnando o gosto da erva em suas paredes. O uso da cinza é para dar maior resistência ao porongo. Após o tempo determinado, retira-se a erva da cuia e, com uma colher, raspa-se bem o porongo, para retirar alguns baraços que tenham ficado.



VOCABULÁRIO

Caá = erva-mate

Caá-y = bebida do mate = chimarrão

Tacuapi= bomba primitiva, feita de taquara pelos índios guaranis.



O MATE E A SUA INTIMIDADE

O ato de preparar um mate diz-se: “cevar um mate” ou “fechar um mate”, ou “fazer um mate” ou ainda ”enfrenar um mate”. A palavra amargo é muito usada em lugar de mate ou chimarrão. O convite para tomar um mate é feito das seguintes formas:

Vamos matear?

Vamos gervear?

Vamos chimarrear?

Vamos verdear?

Vamos amarguear?

Vamos apertar um mate?

Vamos tomar um chimarrão?

Vamos tomar mate ou um mate

Que tal um mate?



EM RELAÇÃO A COMPANHIA, O MATE PODE SER TOMADO DE TRÊS MANEIRAS

MATE SOLITO : quando não precisa de estímulo maior para matear, a não ser a sua própria vontade. É o verdadeiro mateador.

MATE DE PARCERIA : quando se espera por um ou mais companheiros para matear a fim de motivar o mate, pois não gosta de matear sozinho.

RODA DE MATE: é na roda de mate, que esta tradição assume seu apogeu, agrupando pessoas sem distinção de raça, credo, cor ou posse material. Irmanados num clima de respeito, o mate integra gerações numa trança de usos e costumes, que floresce na intimidade gaúcha.



CHIMARRÃO É RICO EM POESIA

Antigamente, Quando os namoros eram de longe, através de troca de olhares, os apaixonados utilizavam o mate como meio de comunicação e, de acordo com o que era posto na cuia, a mensagem era recebida e interpretada. Ao longo de sua história, o chimarrão é utilizado como veículo sutil de comunicação com objetivos sentimentais.

Atualmente, os costumes mudaram, mas o hábito do chimarrão permanece cada vez mais forte, caracterizando o povo gaúcho.



SIGNIFICADO DOS MATES

* Mate com açúcar: quero a tua amizade

* Mate com açúcar queimado: és simpático

* Mate com canela: só penso em ti

* Mate com casca de laranja: vem buscar-me

* Mate com mel: quero casar contigo

* Mate frio: desprezo-te

* Mate lavado: vai tomar mate em outra casa

* Mate enchido pelo bico da bomba: vás embora

* Mate muito amargo (redomão): chegaste tarde, já tenho outro amor

* Mate com sal: não apareças mais aqui

* Mate muito longo: a erva está acabando

* Mate curto: pode prosear a vontade

* Mate servido com a mão esquerda: você não é bem vindo

* Mate doce: simpatia



A LENDA DA ERVA MATE



Contam que um guerreiro guarani, que pela velhice não podia mais sair para as guerras, nem para a caça e pesca, porque suas pernas trôpegas não mais o levavam, vivia triste em sua cabana. Era cuidado por sua filha, uma bela índia chamada Yari, que o tratava com imenso carinho, conservando - se solteira, para melhor se dedicar ao pai.
Um dia, o velho guerreiro e sua filha receberam a visita de um viajante, que foi muito bem tratado por eles. À noite, a bela jovem cantou um canto suave e triste para que o visitante adormecesse e tivesse um bom descanso e o melhor dos sonos.
Ao amanhecer, antes de recomeçar a caminhada, o viajante confessou ser enviado de Tupã, e para retribuir o bom trato recebido, perguntou aos seus hospedeiros o que eles desejavam, e que qualquer pedido seria atendido, fosse qual fosse.
O velho guerreiro, lembrando que a filha, por amor a ele, para melhor cuidá-lo, não se casava apesar de muito bonita e disputada pelos jovens guerreiros da tribo, pediu algo que lhe devolvesse as forças, para que Yari, livre de seu encargo afetivo, pudesse casar.
O mensageiro de Tupã entregou ao velho um galho de árvores de Caá e ensinou a preparar a infusão, que lhe devolveria as forças e o vigor, e transformou Yari em deusa dos ervais, protetora da raça guarani.
A jovem passou a chamar-se Caá-Yari, a deusa da erva-mate, e a erva passou a ser usada por todos os componentes da tribo, que se tornaram mais fortes, valentes e alegres.



RECIPIENTES PARA ÁGUA

CALDEIRA: recipiente grande, muito utilizada para aquecer grande quantidade de água, para diversas finalidades. é mais bojuda que o jarro, não possui tampa nem bico tubular. Os fogões à lenha possuem um recipiente chamado caldeira, que tem a mesma função da caldeira, semelhante ao jarro .

CHALEIRA GRANDE: de uso semelhante ao da caldeira. É muito encontrada nas cozinhas da campanha, nos fogões de barro e nos galpões e nos braseiros do fogo de chão. Por ser muito grande, seu manejo é incômodo.

CHALEIRA MÉDIA: Também conhecida por pava. Devido ao seu tamanho, é a mais usada, quer para aquecer a água, quanto para servir o mate.


CHALEIRA PRETA DE FERRO: varia muito de tamanho e forma mas é o tipo mais comum. Com o uso, chega a criar uma crosta de picumã, que não deve ser removida, pois pode furar com facilidade.

CAMBONA PRIMITIVA: estas cambonas vinham da Inglaterra, com chá-da-índia. Eram feitas de cobre e possuíam a parte de baixo arredondada e sua alça era deita de arame ou de lata. Serviam para preparar alimentos, aquecer água. Tem um refrão popular, que muito bem traduz o quanto à cambona é desajeitada, virando com muita facilidade, que é: “Cambona em cima de tição, tomarás mate ou não!”

CAMBONA: pode ser feita de qualquer lata, pois sua finalidade é única e exclusivamente a de aquecer água, sem precisar de muito fogo. Sua confecção é simples, basta Um pedaço de arame passado várias vezes junto ao local da lata, deixando Um rabicho para pegar e está pronta a cambona. Alguns preferem improvisar um rabicho de arame na parte de cima ou uma alça de arame, prendendo em cima e em baixo da lata e ainda enfiam no rabicho ou na alça, um pedaço de osso de canela do gado, para evitar o calor ao pegar. A picumã, que adere à cambona, não deve ser retirado, pois enfraquece o recipiente.



CAMBONA PRIMITIVA



CHICOLATEIRA: A chicolateira é um recipiente usado nos fogões campeiros, para aquecer a água. Ela difere da cambona, uma vez que possui alça, tampa e um pequeno bico. É um utensílio que requer algum acabamento. È muito usada, não só nos galpões e cozinhas campeiras, como também por carreteiros e tropeiros. O termo chicolateira é uma corruptela de chocolateira.





PARTES DO MATE


a – Topete, respiro, morrete, cerro, barranco, crista (fica à esquerda da bomba).

b – Bomba, bombilha. Se ficar a esquerda do topete, é mate de canhoto.

c – Beiço, boca.

d – Pescoço (na cuia de beiço).

e – Cuia, mate, porongo.

f – Umbigo, cabo, bico.




TIPOS DE BOMBA
1 - tacuapi primitivo

2 - tacuapi missioneiro

3 - bomba de mola


PARTES DA BOMBA
1 – Bico, bocal, chupeta, boquilha.


2 – Anel, pitanga, botão de rosa, resfriador, passador.



3 – Haste, corpo de bomba.



4 – Coador, ralo, patilha, colher, bojo, coco, apartador.


ALGUNS DIZERES
O primeiro mate é dos pintos . - como o gaúcho atira fora os primeiros sorvos de mate, serão os pintos os aproveitadores das partículas de erva cuspidas.

O mate pra o estribo ou O mate o mate do estribo . O último mate com que se brinda um visitante, quando ele já está “com pé no estribo”, ou seja, pronto para partir.


Como o mate do João Cardoso . Emprega-se para designar um fato que nunca se realiza, uma promessa que nunca se cumpre.


Como o mate das senhoras Morais . Idêntico significado da frase anterior. As senhoras Morais, residente na povoação de Basílio, no município de Herval, quando recebiam visitas passavam a tarde inteira perguntando se os amigos queriam mate doce ou chimarrão, com erva paraguaia ou brasileira, em cuia de porcelana ou porongo... para, no final, nada oferecerem.


Toma mais um mate. Não te vás, é cedo ainda.

Aquentar a água pra outro tomar mate. Preparar um negócio para outro pessoa colher os lucros. Emprega-se de modo especial para designar um namorado que “prepara uma moça para depois outro casar com ela...


A “erva”. O dinheiro.


Ele se encheu de “erva”. Ele ganhou muito dinheiro. Talvez um vestígio do tempo em que a erva supria a ausência de moedas sonantes.


Nem pra erva. No último grau de pobreza. Sem dinheiro se quer para comprar o artigo de primeiríssima necessidade quotidiana, que é a erva-mate.


OS DEZ MANDAMENTOS DO CHIMARRÃO
1º - Não peças açúcar no mate.

2º - Não digas que o chimarrão é anti-higiênico.

3º - Não digas que o mate está quente demais.

4º - Não deixes um mate pela metade.

5º - Não te envergonhes do ronco do mate.

6º - Não mexas na bomba.

7º - Não alteres a ordem em que o mate é sorvido.

8º - Não durmas com a cuia na mão.

9º - Não condenes o dono da casa por tomar o primeiro mate.

10º - Não digas que o chimarrão dá câncer na garganta.


BIBLIOGRAFIA

FAGUNDES , Glênio - Cevando o Mate

LESSA , Luiz Carlos Barbosa - História do Chimarrão

TUBINO, Wilson - Os Mistérios Ocultos do Chimarrão

TEIXEIRA , Luiz Rotilli - A Importância Social do Chimarrão

BERKAI, Dorival e BRAGA, Clóvis Airton - 500 Anos de História de Erva-mate

RIBEIRO , Paula Simon - Folclore: Aplicação Pedagógica

FAGUNDES, Antonio Augusto - Curso de Tradicionalismo Gaúcho

" O Cavalo"

Nas áreas rurais, é comum a utilização do cavalo como montaria para passeio, para ir a carreiradas, ir à missa (zona de imigração); para fazer compras no bolicho (armazém ou venda de campanha); para conduzir as crianças à escola; para acompanhar enterros e também para acontecimentos mais alegre, como, por exemplo, ir a um fandango (baile rural) e cerimônias de casamento.
Além de ser usado como montaria, o cavalo é utilizado para tração de carroças, gaiotas, jardineiras, charretes, etc.
...
A maior atuação do cavalo, no Rio Grande do Sul, é na lida campeira. É elemento imprescindível para "parár rodeio", "laçar e pelear", nas marcações e castrações; nas camperiadas, "recorrendo" o campo; nas tropeadas e nas rondas noturnas, quando há gado estranho no campo.
...
O gaúcho monta a cavalo da esquerda para a direita. Quem monta ao contrário, é dito "baiano".
...
O gaúcho dá preferencia ao cavalo dito crioulo. Chama-se crioulo o que descende "dos importados pelos conquistadores da América e que, aqui aclimatamos, vieram a construir uma raça zootécnica com caracteres bem definidos".




Através de pesquisa de campo, observamos as mais variadas denominações dadas ao cavalo, com relação à idade, sinais, pelagem, andadura, manhas, etc.
Quanto a idade, recebe as seguintes denominações?
POTRANCA ou POTRILHO é o cavalo recém nascido.
POTRANCA, no caso de tratar-se de fêmea (nome que conserva enquanto não for coberta)
POTRO é o cavalo novo, macho.



Texto extraído do livro "O CAVALO NO RIO GRANDE DO SUL" da Pesquisadora Liliam Argentina Braba Marques, publicação MTG, 2007.


Neste ainda encontras, aspectos históricos, hipologia, procriação do cavalo, alimentação, cuidados com o cavalo, cola do cavalo, apetrechos usados na doma, marcação e castração, dentre outros.

Querência Serrana

Querência Serrana
Ubiratan Guilherme

“Quem chega na Serra , tremendo de frio
Aquece a alma, ao som de um bugio”


Peço licença aos amigos
Desta bela querência serrana
Para cantar um campeiro bugio
Que a todos os povos irmana

Terra de grandes gaiteiros
E cantores com tradição
Rodeio Serrano, um exemplo
De amor por este rincão

Nos fandangos ou bailes gaúchos
Aqui na serra ou pela fronteira
Teu compasso é só alegria
Pelo galpão levanta poeira

Tua gente alegre e sincera
Do passado uma bela história
Os gaudérios de cima da serra
Mantém vivo e nossa memória

Estribilho

Hortênsias pelo caminho
Venham ver como é lindo
Escutar do povo serrano
Amigo seja bem- vindo

Declamado

Quem nasce aqui na serra
Em vive em meio à coxilha
Sente o aroma do campo
Tem o amor de sua família

Pra ti Honeyde Bertussi
Por respeito eu tiro o chapéu
Em São Chico de Paula
Estou mais perto do céu

Cantado

Se alguém pergunta pela estrada
Respondo com sinceridade
Quem conhece os ares da serra
No peito só sente saudade

Amigos vou me despedindo
Agradeço por poder cantar
Levo lembranças de todos
Já querendo outro dia voltar

Chasque Pra Don Munhoz

Chasque Pra Don Munhoz
(Gaspar Machado)


Amigo Érbio Munhoz

Meu chasque não tem floreios

Eu uso bombacha larga

E um chapéu de metro e meio

Botas de garrão de potro

Laço, pealo e gineteio

E me sustento pachola

Da serventia do arreio



Por voltas que a vida faz

Para açoitar um cristão

Ando cortado dos trocos

Freio e pelego na mão

Sem um cavalo de lei

Pra visitar meu rincão

O nosso Caiboaté Grande

Que trago no coração



(A Tia Maria me disse

Que tua tropilha é de lei

E o José Rodrigues Ramos

Confirmou quando eu pensei

Em te pedir um cavalo

Nesses versos que criei

Pra cantar em São Gabriel

Querência que sempre amei)



Entrega pro Tio Adir

Lá na Costa do Lageado

E diz pra Enilda e Sivinha

Que eu chegarei afogado

Num borrachão de saudade

Do tamanho do meu pago

E a Negra Juci me espere

Com um chimarrão bem cevado



Don Érbio guarde consigo

Que um dia arranco do peito

E pago esta obrigação

Que me deixa satisfeito

O pêlo é da tua conta

Baio, rosilho, eu aceito

Que o velho Moacir Cabral

Me fez assim por direito

(A Tia Maria me disse

Que tua tropilha é de lei

E o José Rodrigues Ramos

Confirmou quando eu pensei

Em te pedir um cavalo

Nesses versos que criei

Pra cantar em São Gabriel

Querência que sempre amei)